quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O PEDREIRO

O PEDREIRO
Nazaré, 25-09-1974

Descalço e sem amparo
Ele sobe os andaimes,
Até chegar ao quarto andar
Ainda em construção.

Chegando, começa o trabalho.
Tijolo sobre tijolo
Até formar as paredes,
Todas em prumos exatos,
Todas niveladas
Formando um eqüilátero,
Para a gloria do engenheiro.

De repente, uma viga se parte
E o trabalho vem abaixo.
Junto, os trabalhadores.
Desce o pedreiro,
Desce o cimento,
Desce o concreto.
A parede foge ao prumo,
O piso foge ao esquadro,
A laje foge ao nível
E tudo está destruído.

Sem que ninguém esperasse,
Sem saber de onde saíram,
Aparecem os fotógrafos e jornalistas.
Muito tempo depois
O corpo de bombeiros,
Os carros de policia,
Câmeras de TV,
Radialistas e curiosos.
Todos para um mesmo fim.

Ver e filmar a desgraça.
Duas horas depois
Do trágico acontecimento,
Fotografado e televisionado,
É que aparece uma ambulância
Em busca de estragados.
Primeiro estava sendo discutido
Quem ia pagar a clinica, pois
O hospital estava lotado.

Ninguém compreende nada.
Todos olham no chão
Um amontoado de tijolos
Misturado com cadáveres,
E dão suas opiniões:
-Embaixo desses tijolos
Deve haver alguém morto.
-O engenheiro disse
Que a culpa foi do pedreiro.
Mas, o que acontece,
É que ninguém tira os tijolos
De sobre os corpos estraçalhados,
E ninguém assume a responsabilidade
De toda aquela desgraça.
Resolveram esperar a perícia para tirar os corpos.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Caro Gilberto, parabéns pelo blog.
    Excelente trabalho.
    Abraços.
    Léa Mattar Leister

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