quinta-feira, 14 de outubro de 2010

REVOLTA

REVOLTA
Nazaré, 04-12-1968

Aqui eu escrevo, todas as minhas desgraças
De toda a minha vida passada, presente, futura.
Odeio a todos e gosto de todos.
Mato por todos, sofro por todos e vivo por todos.

Olho-me no espelho e verifico com surpresa!
Eu não sou eu.
Eu não sou o eu que me era antigamente.
Não sou mais quem eu pensava quem eu era.
Estava mais arisco ou talvez, mais calmo.
Não sei me identificar, pois dentro do espelho
Só o que não modificou em mim, foi o meu nome.

Quem me dera que eu voltasse a ser,
O que não era futuramente.

Eu apenas não quero ser o que ainda serei;
Um eterno felizardo.
Eu quero é sofrer. Sofrer!
Até a hora de perecer
E voltar a ser
O que ninguém pretende ser.
Onde ninguém pretende estar.
Um lugar tão quente, tão sufocante.
Sufocante como um abraço
Quente como um beijo.

Um comentário:

  1. Este lugar, quente, nutridor, homeostático e eterno
    também conhecido como o paraíso perdido
    o útero materno.

    é a luta e a preplexidade da individuação que nos mostra o tanto que fazemos parte do todo e ao mesmo tempo, noves fora, acabamos nada...

    Gostei muito de ler-te.
    GRANDE ABRAÇO

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